terça-feira, 4 de outubro de 2011

Um abraço, uma recordação

Quando todo aquele sonho parecia ter chegado ao fim, eles deciram sentar-se no passeio, em frente à casa da prima dela, onde ela ía passar a noite, e descobriram que, afinal, ainda tinham muito tempo para compensar os longos e dolorosos meses que haviam passado separados.
Estava uma noite consideravelmente fria, e ele aguentava todo esse gélido desconforto que lhe arrepiava a pele, só para compensar a irresponsabilidade dela de não trazer casaco; ela vestira o dele, pois fora escusado recusar , ele insistira fortemente. Naquele momento, ela estava quente e confortável, enquanto que ele, pelo bem estar dela, aguentava os tremores e os arrepios. Na sua cabeça, isto significava que ele se preocupava com ela, que ainda sentia carinho por ela. Pelo menos, era o que ela pensava, era o que ela desejava ser verdade.
Após tanto tempo separados, tempo esse que levara a grande amizade que os unia, estavam agora juntos, sentados à beira da estrada, prontos para se conhecerem de novo. Prontos para revelar um ao outro aquilo que o tempo apagara das suas memórias.
Olhavam a infinidade do Universo e contemplavam a misteriosa e profunda escuridão da noite. Sentiam-se como desconhecidos, que não sabiam como quebrar o silêncio; mas, no caso deles, o silêncio não era constrangedor, não sentiam a obrigação de pronunciar palavras para se sentirem em contacto; não tinham a necessidade de perguntar como estás? para que soubessem que estavam dispostos a ouvir o que cada um tinha a dizer.

-Tenho frio.- ela olhou-o, ele mantinha o olhar fixo na escuridão. Fez uma pausa. - Abraça-me! - Ele olhava agora para ela, com um olhar doce e profundo. Tremia. Ela sentiu uma lágrima criar-se no canto do olho. Pensava em abraça-lo, mas simplesmente, por alguma razão, não o fez. Paralisou. Mas ele não, não esperou pela resposta dela ao seu pedido, e abraçou-a ele. Estendeu os seus braços em torno dos ombros dela, carinhosa e amavelmente, mas, ainda assim, determinadamente.



Estavam, agora, prontos para descobrir que o tempo não apagara tudo.

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Lost, and not found

(27-06-2010) São 23h e 08min, é de noite, está escuro lá fora e apesar de cá dentro ter uma luzinha acesa que me ilumina, preferia estar lá fora, ao escuro, ao frio, e talvez até com medo. Pois a minha vontade é correr. Correr até chegar onde quero. Correr até chegar a quem quero. Correr, correr, correr o mais depressa possível. Podia ficar estafada, com os lábios roxos por causa do frio e com a respiração difícil e irregular pelo cansaço. Podia, não haveria problema, se tivesse chegado até ele. Se o pudesse ver, chama-lo, e dizer-lhe as palavras que tanto entaladas me estão, ‘amo-te’. Talvez eu queira tanto isso porque estou cansada de me sentir assim, cansada de sofrer. Talvez seja por mim, para o meu próprio bem. Não sei, só sei que sinto necessidade de resolver tudo isto, de o voltar a ter comigo. Saudades de ele me abraçar e dizer que gosta de mim, saudades de receber uma mensagem dele, saudades de ser tratada como a ‘melhor amiga’. Saudades de me sentir importante, respeitada, especial, adorada. Queria, mais do que qualquer outra coisa, voltar ao passado, ou poder trazer o passado ao presente e ao futuro. Reviver tudo o que já vivi, com ele. Voltar a ouvir, voltar a sentir, voltar a dizer, voltar a sorrir, voltar a ver, tudo aquilo que já ouvi, senti, disse, sorri e vi antes, por ele e com ele.

Não, eu não peço uma vida perfeita e maravilhosa, um conto de fadas só com sorrisos e alegrias. Não quero isso. Quero sim continuar a minha vida, com quem me é importante do meu lado, e nem todos esses o estão. Uns perdem-se, outros afastam-se, e ainda outros desistem. E ele, ele não está comigo. Ele, que perdi, que se afastou e que desistiu; ele, que me faz falta; ele, que me é importante; ele, que eu amo. Ele era o meu menino, o meu refúgio.

Ficava a noite inteira acordada, percorria as ruas todas, cada cantinho. Não desistia enquanto não o encontrasse. Se não o encontrasse, continuava no dia a seguir. Simplesmente não desistia. Sim, essa era a minha grande vontade. Mas não, não o vou fazer. Porquê? Falta de coragem, medo de ser rejeitada novamente. Vontade de esquecer tudo, seguir em frente, sem ele. Mas de cada vez que penso nisso parece-me tão difícil. Tão impossível.
Agora, a olhar lá para fora, está cada vez mais escuro, sinal de que o tempo está a passar. Cada hora que passa é mais uma perda de tempo. Cada minuto que passa é menos um minuto que tenho para estar com ele. Cada segundo que passa é menos um segundo da minha vida. Se, depois de tanta corrida, o tivesse encontrado e estivesse frente a ele, enchia-me de coragem e dizia tudo aquilo que estava por dizer; tudo aquilo que sempre quis dizer mas que o fim da nossa amizade o impediu.
 ‘(…) Por muitas razões, tu foste o meu melhor amigo, por todas as razões talvez ainda o sejas no fundo do meu coração. E por todas essas e muitas mais razões, eu te amo. Sim, eu amo-te.’.

Impossível, seria prever a sua reacção. Ele sempre fora assim, imprevisível, em tudo o que dizia e em tudo que fazia. Algo que eu verdadeiramente apreciava nele.

Todo o caminho que fizera a correr, com o coração aos saltos, ansiosa, fazia-o agora, mas no sentido inverso, já não corria, para quê correr? Já não havia pressa. Já não tinha o coração aos saltos, já não tinha coração simplesmente, ficara no mesmo sítio onde deixara as palavras que tanto me atormentavam.

E escrever outro possível fim, seria demasiado cruel; demasiado doloroso.


quinta-feira, 14 de julho de 2011

Mundo (i)real












[22-05-2011] Estava cansada. Não cansada fisicamente, mas antes cansada de tudo que se tem vindo a passar, de todos os problemas. Não chorava, porque sabia que só me ia fragilizar ainda mais, e fazer-me chorar a qualquer mínima situação que me tocasse na sensibilidade. Não gritava, porque não estava sozinha em casa e não queria que se apercebessem de que não estava tudo bem comigo. Não pensava, pois o que eu mais queria era precisamente o contrário: tirar todos esses pensamentos da minha cabeça. Não mantinha os olhos abertos, pois a água que me escorria pela cara, nem quente nem fria, ardia-me quando entrava para os olhos, deixava-me a visão baça e obrigava-me a fecha-los. Não respirava, simplesmente porque me esqueci. E ali fiquei, estatelada debaixo do chuveiro. Abstrai-me de tudo, deixei-me levar para um sítio diferente. Um sítio onde tudo era seguro, onde não havia gritos, lágrimas, nem problemas. Queria ficar ali para sempre, não queria sair daquele “Mundo”, onde tudo era perfeito, porque simplesmente não havia nada. Queria. Queria tanto que me forcei a não “acordar”, forcei-me a ficar ali, a não voltar. No entanto, sabia que não era possível.

Não podemos fugir à realidade. Não podemos fugir às lágrimas, aos gritos e aos problemas. Não neste Mundo, o real. Não é assim tão fácil, não podemos simplesmente viajar para outro sítio e deixarmo-nos ficar por lá até que tudo fique resolvido. Não é assim. Infelizmente não é assim.

domingo, 19 de junho de 2011

E Ela disse, a medo e devagarinho, para que ele percebesse à primeira. Não queria correr o risco de ter que repetir, pois poderia perder a coragem que encontrara. Sussurrou, tão baixinho que Ele duvidou se teria ouvido bem, duvidou se o que ouvira seria apenas o seu pensamento e a sua vontade de o ouvir a falar mais alto. Ele duvidou se teria ouvido bem, mas, no fundo, sabia o que Ela tinha dito, pois sentiu o peso e o carinho que aquelas palavras trouxeram; Ele percebeu, simplesmente pelo olhar dela, profundamente preso ao seu, o que Ela tinha dito. Era a primeira vez que Ele ouvia, era a primeira vez que Ela dizia, aquela pequena grande palavra que no Mundo pouco mudou, mas que nas suas vidas TUDO mudou; a palavra mais desejada e mais verdadeira que Ele alguma vez ouviu, e que Ela alguma vez pronunciou, “Amo-te”.