Quando todo aquele sonho parecia ter chegado ao fim, eles deciram sentar-se no passeio, em frente à casa da prima dela, onde ela ía passar a noite, e descobriram que, afinal, ainda tinham muito tempo para compensar os longos e dolorosos meses que haviam passado separados.
Estava uma noite consideravelmente fria, e ele aguentava todo esse gélido desconforto que lhe arrepiava a pele, só para compensar a irresponsabilidade dela de não trazer casaco; ela vestira o dele, pois fora escusado recusar , ele insistira fortemente. Naquele momento, ela estava quente e confortável, enquanto que ele, pelo bem estar dela, aguentava os tremores e os arrepios. Na sua cabeça, isto significava que ele se preocupava com ela, que ainda sentia carinho por ela. Pelo menos, era o que ela pensava, era o que ela desejava ser verdade.
Após tanto tempo separados, tempo esse que levara a grande amizade que os unia, estavam agora juntos, sentados à beira da estrada, prontos para se conhecerem de novo. Prontos para revelar um ao outro aquilo que o tempo apagara das suas memórias.
Olhavam a infinidade do Universo e contemplavam a misteriosa e profunda escuridão da noite. Sentiam-se como desconhecidos, que não sabiam como quebrar o silêncio; mas, no caso deles, o silêncio não era constrangedor, não sentiam a obrigação de pronunciar palavras para se sentirem em contacto; não tinham a necessidade de perguntar como estás? para que soubessem que estavam dispostos a ouvir o que cada um tinha a dizer.
-Tenho frio.- ela olhou-o, ele mantinha o olhar fixo na escuridão. Fez uma pausa. - Abraça-me! - Ele olhava agora para ela, com um olhar doce e profundo. Tremia. Ela sentiu uma lágrima criar-se no canto do olho. Pensava em abraça-lo, mas simplesmente, por alguma razão, não o fez. Paralisou. Mas ele não, não esperou pela resposta dela ao seu pedido, e abraçou-a ele. Estendeu os seus braços em torno dos ombros dela, carinhosa e amavelmente, mas, ainda assim, determinadamente.
Estavam, agora, prontos para descobrir que o tempo não apagara tudo.