(27-06-2010) São 23h e 08min, é de noite, está escuro lá fora e apesar de cá dentro ter uma luzinha acesa que me ilumina, preferia estar lá fora, ao escuro, ao frio, e talvez até com medo. Pois a minha vontade é correr. Correr até chegar onde quero. Correr até chegar a quem quero. Correr, correr, correr o mais depressa possível. Podia ficar estafada, com os lábios roxos por causa do frio e com a respiração difícil e irregular pelo cansaço. Podia, não haveria problema, se tivesse chegado até ele. Se o pudesse ver, chama-lo, e dizer-lhe as palavras que tanto entaladas me estão, ‘amo-te’. Talvez eu queira tanto isso porque estou cansada de me sentir assim, cansada de sofrer. Talvez seja por mim, para o meu próprio bem. Não sei, só sei que sinto necessidade de resolver tudo isto, de o voltar a ter comigo. Saudades de ele me abraçar e dizer que gosta de mim, saudades de receber uma mensagem dele, saudades de ser tratada como a ‘melhor amiga’. Saudades de me sentir importante, respeitada, especial, adorada. Queria, mais do que qualquer outra coisa, voltar ao passado, ou poder trazer o passado ao presente e ao futuro. Reviver tudo o que já vivi, com ele. Voltar a ouvir, voltar a sentir, voltar a dizer, voltar a sorrir, voltar a ver, tudo aquilo que já ouvi, senti, disse, sorri e vi antes, por ele e com ele.
Não, eu não peço uma vida perfeita e maravilhosa, um conto de fadas só com sorrisos e alegrias. Não quero isso. Quero sim continuar a minha vida, com quem me é importante do meu lado, e nem todos esses o estão. Uns perdem-se, outros afastam-se, e ainda outros desistem. E ele, ele não está comigo. Ele, que perdi, que se afastou e que desistiu; ele, que me faz falta; ele, que me é importante; ele, que eu amo. Ele era o meu menino, o meu refúgio.
Ficava a noite inteira acordada, percorria as ruas todas, cada cantinho. Não desistia enquanto não o encontrasse. Se não o encontrasse, continuava no dia a seguir. Simplesmente não desistia. Sim, essa era a minha grande vontade. Mas não, não o vou fazer. Porquê? Falta de coragem, medo de ser rejeitada novamente. Vontade de esquecer tudo, seguir em frente, sem ele. Mas de cada vez que penso nisso parece-me tão difícil. Tão impossível.
Agora, a olhar lá para fora, está cada vez mais escuro, sinal de que o tempo está a passar. Cada hora que passa é mais uma perda de tempo. Cada minuto que passa é menos um minuto que tenho para estar com ele. Cada segundo que passa é menos um segundo da minha vida. Se, depois de tanta corrida, o tivesse encontrado e estivesse frente a ele, enchia-me de coragem e dizia tudo aquilo que estava por dizer; tudo aquilo que sempre quis dizer mas que o fim da nossa amizade o impediu.
‘(…) Por muitas razões, tu foste o meu melhor amigo, por todas as razões talvez ainda o sejas no fundo do meu coração. E por todas essas e muitas mais razões, eu te amo. Sim, eu amo-te.’.
Impossível, seria prever a sua reacção. Ele sempre fora assim, imprevisível, em tudo o que dizia e em tudo que fazia. Algo que eu verdadeiramente apreciava nele.
Todo o caminho que fizera a correr, com o coração aos saltos, ansiosa, fazia-o agora, mas no sentido inverso, já não corria, para quê correr? Já não havia pressa. Já não tinha o coração aos saltos, já não tinha coração simplesmente, ficara no mesmo sítio onde deixara as palavras que tanto me atormentavam.
E escrever outro possível fim, seria demasiado cruel; demasiado doloroso.